Esse assunto ai merece uma série de muitas news! Eu amei esse Subwaytakes e ele levantou esse papo aqui em casa também.
Acho que as redes, muito mais que o Ottolenghi, são culpadas por essa mesmice. Ele pode até ter popularizado um estilo de cozinhar, mas acho que foi o acesso de todo mundo às mesmas receitas, os influenciadores copiando uns aos outros para pegar carona numa receita que gerou mais engajamento e a insana demanda por coisa "nova" o tempo todo que aceleraram essa mesmice. O povo já não tem mais de onde tirar ideia e acaba criando esses pratos aí, com mil camadas, mil ingredientes, mil técnicas. Vira e mexe sai coisa boa, mas muitas vezes saem coisas estranhas.
Nos restaurantes idem porque, querendo ou não, os chefs também estão nas redes e são produtores de conteúdo, influenciando e sendo influenciados.
Acho até que o próprio Ottolenghi virou vítima disso com sua cozinha de produção da qual saem (tem que sair) receitas o tempo todo. Os livros da série OTK (Ottolenghi Kitchen) trazem umas receitas nesse estilo e acho que se fiz três foi muito. Ainda não vi o Nostalgia, mas estou curiosa pra ver se ele conseguiu sair disso. Mas pelas entrevistas que ouvi, não sei se são receitas de família tal e qual. Acho que a maioria tem um "toque Ottolenghi" com um ingrediente a mais aqui, um molho diferente ali...veremos!
Me lembrei desse texto que escrevi um tempo atrás. Além do tudo igual, tem esse lance de reinventar as coisas dando esses toques bizarros e que ai começam ser reproduzidos em larga escala.
"Esse comportamento on-line mudou a forma como criamos conteúdo e, no caso da minha área, receitas. Hoje, parece que mais vale algo "autoral" — que muitas vezes consiste apenas num (bom) rebrand — do que algo necessariamente novo e/ou gostoso, como as watermelon fries — ou a melancia cortada em palitos, empratada e servida com iogurte (dê um Google). E quem foi que inventou o powdery ice [gelo em pó], uma raspadinha em textura mais fina? São muitos os vídeos de gente ensinando a bater gelo no liquidificador. Tem alguns que consistem apenas numa pessoa sentada comendo gelo em pó puro. Será que fui eu que não entendi e preciso de explicação? Me ajudem!
Tem também as receitas que tentam fazer releituras de clássicos com um toque "pessoal", como a de cacio e pepe que leva 1 litro de vinho tinto rebatizada de "cacio e pepe bêbado". Por um tempo (curto, como sempre) essa massa foi aclamada na bolha gastronômica da internet. Pode isso, Arnaldo? Poder pode, mas…"
Estou lendo o As mentiras da nonna, do Alberto Grandi e tenho a sensação que tudo que vivemos é uma extensão do que ele comenta no livro. Somos narrativas e agora aceleradas pela distância invisível que as redes sociais nos colocam. Somos tão plurais que somos pasteurizados pela globalização e curiosidade de provar e sermos um pouco de tudo. Os litros de pensamentos não se destilam facilmente, mas com as leituras críticas e um pouco de saudosismo de uma época mais analógica e de papel a mente aquieta.
Nessa onda, eu estou me coçando para pesquisar, conversar (e talvez escrever?) sobre a nossa obsessão coletiva com reação de Maillard. Parece que ela virou a regra no prato e buzzword favorita do mundo da comida. Sim, as crostinhas e os caramelizados são deliciosos, complexos e - claro - instagramáveis. Mas que outros sabores cheios de nuance e delicadeza estamos deixando de lado nessa jornada?
Uau, acabei de encontrar seu substack e fiquei muito surpresa com o conteúdo. Concordo em gênero, número e grau. Em Londres todos os pratos dos restaurantes descoladinhos são os mesmos dos restaurantes descoladinhos de São Paulo. No mais, adorei ver as recomendações de vinho — mal bebo, mas ja anotei.
Amiga, eu amo quando você está cheia de ideias na cabeça, essa sopa de letrinhas, essa colcha de retalhos que instiga, inspira e já me faz querer mais.
O que eu mais pensei lendo esse texto é sobre como a única comida que parece existir atualmente de café da manhã é avocado toast nas suas poucas variações (com salmão, com ovo mollet, com ovo frito e meio que é isso). Boriiiiing.
Adorei o texto e como você amplificou e aprofundou um rancinho pessoal que eu sentia aqui. <3
Opa, não acompanhei de perto a repercussão do Descorchados deste ano. Já rolou a tradicional choradeira de produtores que não aguentam críticas, parecem viver só de elogios?
Adorei o texto, Isa, e acho que essa reflexão esbarra muito nas diversas formas de dietas mirabolantes que vemos por aí, quando na verdade é só comer “como nossos avós comiam”.
Acho que no fim das contas, com tanta informação e fácil acesso, me emociona e surpreende a comida de quem consegue manter (ainda) um pouco da simplicidade das origens.
Esse assunto ai merece uma série de muitas news! Eu amei esse Subwaytakes e ele levantou esse papo aqui em casa também.
Acho que as redes, muito mais que o Ottolenghi, são culpadas por essa mesmice. Ele pode até ter popularizado um estilo de cozinhar, mas acho que foi o acesso de todo mundo às mesmas receitas, os influenciadores copiando uns aos outros para pegar carona numa receita que gerou mais engajamento e a insana demanda por coisa "nova" o tempo todo que aceleraram essa mesmice. O povo já não tem mais de onde tirar ideia e acaba criando esses pratos aí, com mil camadas, mil ingredientes, mil técnicas. Vira e mexe sai coisa boa, mas muitas vezes saem coisas estranhas.
Nos restaurantes idem porque, querendo ou não, os chefs também estão nas redes e são produtores de conteúdo, influenciando e sendo influenciados.
Acho até que o próprio Ottolenghi virou vítima disso com sua cozinha de produção da qual saem (tem que sair) receitas o tempo todo. Os livros da série OTK (Ottolenghi Kitchen) trazem umas receitas nesse estilo e acho que se fiz três foi muito. Ainda não vi o Nostalgia, mas estou curiosa pra ver se ele conseguiu sair disso. Mas pelas entrevistas que ouvi, não sei se são receitas de família tal e qual. Acho que a maioria tem um "toque Ottolenghi" com um ingrediente a mais aqui, um molho diferente ali...veremos!
Me lembrei desse texto que escrevi um tempo atrás. Além do tudo igual, tem esse lance de reinventar as coisas dando esses toques bizarros e que ai começam ser reproduzidos em larga escala.
"Esse comportamento on-line mudou a forma como criamos conteúdo e, no caso da minha área, receitas. Hoje, parece que mais vale algo "autoral" — que muitas vezes consiste apenas num (bom) rebrand — do que algo necessariamente novo e/ou gostoso, como as watermelon fries — ou a melancia cortada em palitos, empratada e servida com iogurte (dê um Google). E quem foi que inventou o powdery ice [gelo em pó], uma raspadinha em textura mais fina? São muitos os vídeos de gente ensinando a bater gelo no liquidificador. Tem alguns que consistem apenas numa pessoa sentada comendo gelo em pó puro. Será que fui eu que não entendi e preciso de explicação? Me ajudem!
Tem também as receitas que tentam fazer releituras de clássicos com um toque "pessoal", como a de cacio e pepe que leva 1 litro de vinho tinto rebatizada de "cacio e pepe bêbado". Por um tempo (curto, como sempre) essa massa foi aclamada na bolha gastronômica da internet. Pode isso, Arnaldo? Poder pode, mas…"
https://lenamattar.substack.com/p/scroll-infinito-e-a-producao-frenetica
Estou lendo o As mentiras da nonna, do Alberto Grandi e tenho a sensação que tudo que vivemos é uma extensão do que ele comenta no livro. Somos narrativas e agora aceleradas pela distância invisível que as redes sociais nos colocam. Somos tão plurais que somos pasteurizados pela globalização e curiosidade de provar e sermos um pouco de tudo. Os litros de pensamentos não se destilam facilmente, mas com as leituras críticas e um pouco de saudosismo de uma época mais analógica e de papel a mente aquieta.
Nessa onda, eu estou me coçando para pesquisar, conversar (e talvez escrever?) sobre a nossa obsessão coletiva com reação de Maillard. Parece que ela virou a regra no prato e buzzword favorita do mundo da comida. Sim, as crostinhas e os caramelizados são deliciosos, complexos e - claro - instagramáveis. Mas que outros sabores cheios de nuance e delicadeza estamos deixando de lado nessa jornada?
Uau, acabei de encontrar seu substack e fiquei muito surpresa com o conteúdo. Concordo em gênero, número e grau. Em Londres todos os pratos dos restaurantes descoladinhos são os mesmos dos restaurantes descoladinhos de São Paulo. No mais, adorei ver as recomendações de vinho — mal bebo, mas ja anotei.
espero que surpresa pro bem kkk <3 bjo, seja bem-vinda!
Amiga, eu amo quando você está cheia de ideias na cabeça, essa sopa de letrinhas, essa colcha de retalhos que instiga, inspira e já me faz querer mais.
O que eu mais pensei lendo esse texto é sobre como a única comida que parece existir atualmente de café da manhã é avocado toast nas suas poucas variações (com salmão, com ovo mollet, com ovo frito e meio que é isso). Boriiiiing.
Adorei o texto e como você amplificou e aprofundou um rancinho pessoal que eu sentia aqui. <3
Opa, não acompanhei de perto a repercussão do Descorchados deste ano. Já rolou a tradicional choradeira de produtores que não aguentam críticas, parecem viver só de elogios?
haha sabe que esse ano achei suave? o tapia tb não pegou tão pesado dessa vez. mas vi ali um negócio de ele tá ficando mais poderoso. até saiu isso aqui: https://www1.folha.uol.com.br/comida/2025/04/principal-critico-de-vinho-sul-americano-impulsiona-suquinhos-eletricos.shtml
Então não perdi nada rs E valeu pelo link, lerei a matéria.
Adorei o texto, Isa, e acho que essa reflexão esbarra muito nas diversas formas de dietas mirabolantes que vemos por aí, quando na verdade é só comer “como nossos avós comiam”.
Acho que no fim das contas, com tanta informação e fácil acesso, me emociona e surpreende a comida de quem consegue manter (ainda) um pouco da simplicidade das origens.