Onde encher sua pancinha em quatro cidades
Um prensadão de começo de ano com pratos que vão de peixe com tapioca a fideua de grão de bico, além de Sergio Mallandro e vinho congelado
Oi, voltei! Quer dizer, mais ou menos. Parece que este é o ano da viagem. Não consegui tirar grandes férias com meus filhos, mas aproveitei cada um dos fins de semana para fazer pequenos retiros. E agora escrevo de Buenos Aires, para onde vim como convidada da Fiesta del Tomate. Fico até domingo, estou acumulando coisas para contar. Mas por enquanto, deixo aqui dicas de alguns dos lugares onde fui mais feliz nas férias de verão para quem ainda tá com o pé na estrada ou tá programando a próxima aventura.
Isca, Rio de Janeiro



O Isca é tão hipster que, em vez de tapas, é um bar de pintxos, afinal o petisco basco ainda não está desgastado por aqui. Mas além deles, há tacos, tortillas e muitas outras delícias a serem provadas. Nada do que comi foi mais ou menos, tudo excelente. Entre os destaques, o pintxo de polvo, o de peixe curado e o de jamón, a panqueca de milho e a torta basca são os destaques. Você pode ver o cardápio nos destaques do Insta. Tem drinks, cervejas e não alcóolicos.
Muvuco, Fortaleza


Seguindo a tradição local, uma casinha avarandada é transformada em bar com música ao vivo. É tudo simples, um boteco. O cardápio é imaginativo, mas não exatamente sofisticado. Mas a execução me deixou com saudades enquanto eu ainda estava lá. O ponto mais alto foi o peixe com tapioca, que faz com que nos imaginemos numa Fortaleza bem antiga, comendo com os pescadores. O vinagrete de polvo é também uma delícia. E a caipirinha de limão com caju, totalmente indispensável.
Kidoairaku, São Paulo



Tive a brilhante ideia de ir à Liberdade para o almoço do meu aniversário (26/12), achando que ia encontrar o bairro vazio. Não só estava lotado como metade dos restaurante estava fechada, ou seja, estava mais lotado ainda. Apesar do presságio infernal, encontrei o maravilhoso Kidoairaku aberto e com pouca fila, com mesa liberada instantaneamente para um grupo grande dentro de uma simpática salinha. Presente de aniversário? Me instalei com a família e amigos amados e pedimos o combinado da foto, que evaporou em instantes graças a crianças famintas. Minha dica: não repita meu erro, vá só com os adultos. Os sushis eram perfeitos demais para que as crianças entendessem. Para a sobremesa, o espaço Kazu, na mesma rua, tem uma confeitaria leve, deliciosa e de preço camarada. Escapamos por ali.
Grand Dabbang, Buenos Aires


Acabei de voltar do restaurante, que é um respiro no meio de uma gastronomia célebre pela carne e pelo acento italiano e espanhol. Com uma cozinha indiana bastante exótica para quem está acostumada com currries fumegantes, o restaurante é despojado e moderninho. Faça reserva, aproveite bem seu momento lá porque vai durar pouco: cada turma fica até 2h no microsalão. O menu lembra um pouco um folheto de instruções de jogos, poque traz na primeira página dicas de como ser feliz ali: peça dois pratos por pessoas pelo menos. É obrigatório pedir o labne, que é cremoso, doce e picante, com pepino, tomate, ervas, cebolas, e que vem com um fideua crocante de grão de pico. Estava deliciosa a panceta defumada com mel, molho de peixe, pêssego e que vira um taco com repolho e manga. Uma carne de boi assada e vermelhinha com papaya, manteiga de amendoim e bambu feita para ser enrolada com folhas tava uma loucura. Na verdade, arrume uma turma grande e peça o cardápio todo. Mas faça dessa experiência sua única refeição do dia, para dar conta de todas as delícias e aliviar o bolso.
Oiá, Rio de Janeiro


Embora já tenha sete anos, o Oiá foi novidade para mim. Achei bonito e agradável, com um atendimento hipergentil, mas não é nada barato. Os pontos altos foram o crudo de atum com salada grega, devorado em 2 segundos pelas crianças, o queijo feta empanado (nham) e servido com mel e a maravilhosa e desconstruída moussaka, com muita especiaria e super cremosa. Gostei da sobremesa de coalhada com frutas, mas ela é meio cara demais (assim como as outras opções). Focaria na moussaka, que é bem servida e diferentona.
Nomo Gastronomia, São Paulo






Esse pequenino restaurante na Vila Madalena é uma indicação certeira para quem gosta de vinho, porque tem na sócia Patrícia Werneck uma entusiasta, que faz a seleção das garrafas e o serviço no salão. Ela tem uma boa variedade de rótulos e serve muita coisa em taça. A carta de vinhos é caprichada nas descrições e traz todo estilo, de muitas importadoras, privilegiando a baixa intervenção, mas sem focar só no glou-glou. A cozinha traz pratos maravilhosos de vegetais, então fica a dica aí para quem quer fugir da carne. Se não for o caso, peça o cupim, que é maravilhoso.
O bolo de macaxeira da minha mãe, em muitas cidades
A padaria Nema, que eu desconhecia até o começo do ano, está em muitas capitais do país, como Rio e São Paulo, vendendo um bolo de macaxeira IGUAL ao da minha mãe. Igual num nível que nem o meu é. Custa pouco mais de R$ 20, dá pra seis pedacinhos. Mas um alerta: eu como fácil sozinha de uma vez e aposto que você também. Vale cada centavo.
Garrafa da Semana
Depois de um janeiro demi-séc, enfiquei todos os pés e o pescoço na jaca na Argentina, provando coisas maravilhosas. Nesse clima, indico o Zuccardi Q Tempranillo, cuja safra 2018 é vendida hoje na Grand Cru. É bem mais clássico do que as coisas que tenho encontrado por aqui agora, mas bom para falar que o país tem uma diversidade que vai além da malbec — afinal, é um tempranillo. Provei a safra 2003 há dois anos, quando completava 20, e foi uma experiência emocionante. Se você puder, compre duas garrafas do 2018 e guarde uma. Esqueça-se dela. A outra deve ser aberta para acompanhar uma carne deliciosa. Vale destacar que o produtor é um dos melhores da Argentina. A família está no negócio há anos e hoje quem toca a produção é o Sebastián Zuccardi, terceira geração e um gênio que tem participação em diferentes projetos, fazendo vinho do estilo mais clássico, como este, ao mais funky. Abaixo, você tem uma amostra da minha emoção ao provar o Q.
Falando em glou-glou, vem fazer glu-glu
Nesta semana, na Folha, discuti a bebebilidade dos vinhos. Nome horroroso, eu sei, escrevo sobre isso também e peço perdão pela grosseria com nossa doce língua portuguesa. Aqui um trecho:
Voltando ao drama linguístico, os franceses, quando um vinho segue o estilo "bom de beber de balde", com fruta, acidez, leveza, pouco álcool e sem notas de barrica, o chamam de "glou-glou". Aqui no Brasil, infelizmente, o simpático adjetivo me parece impossível de ser adaptado pois me parece ter sido abduzido pela cultura popular dos anos 1980: quem ouviu Sérgio Mallandro cantar "Vem Fazer Glu-glu" não é capaz de esquecer.
Vinho no freezer, quem nunca, eu sempre
Ouvi boatos de que Manoel Beato congela bons vinhos que sobravam. Curiosa, liguei pra ele: era tudo verdade. É o seu método para não morrer com tacinhas de Bordeaux 1982. Conto toda essa história nessa coluna aqui, publicada em janeiro.
Só mais um golinho
Se você tiver sofrendo do mesmo mal abaixo, sugiro a nova levada de menus criados pela Lena Mattar (aqui está o quarto).
Amei "não repita meu erro, vá só com os adultos. Os sushis eram perfeitos demais para que as crianças entendessem." hahaha
Berroooo e salivas!!! Quero ir em todos Lady B ♥️♥️♥️