Já é fevereiro, não vamos perder tempo
Nada de textão; só um monte de dica boa para comer, beber, ler, ouvir e até dizer amém no final
Vi circulando por aí um meme que diz que, se dezembro voa como se os dias fossem segundos, janeiro não acaba nunca. É como se o calendário do ano fosse se afunilando e agora nós estamos presos no mês da marmota. Mas eis que, enfim, nos libertamos e chegamos a fevereiro. Mais ainda: em duas semanas, já passou até o Carnaval e começa o ano de verdade. Se, para você, já for hora de encerrar o período de seca alcóolica, vão aqui algumas dicas. Mas tem mais coisa: vou elencar boas descobertas em São Paulo, leituras, podcasts, e não enrolar muito para começar, porque, enfim, 2024 tem que acontecer.
Uma cerveja e um vinho da semana
Não escondo de ninguém que amo as cervejas da Trilha e espero não chover no molhado, mas piro na Uppumango, uma cerveja ácida com manga e final salgadinho. Pra quem é fã de vinho laranja, vai ser uma loucura. Agora, se você quer um branco com um pouco de fruta, um pouco de erva, alguma mineralidade e acidez no ponto por menos de R$ 100, o Stellenbosch Hills Polkadraai Chenin Blanc Sauvignon Blanc é uma dica certa. Tá quente demais, prepara um baldinho pros dois!
Tinto de padaria (só que não)
Faz uns anos, fui a Portugal e conheci a Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo no Douro, que tem um hotel boutique babadeiro e faz vinhos incríveis. O Graínha é um dos vinhos de melhor custo benefício da vinícola e agora está no Brasil importado pela padaria Fabrique. Eles têm o tinto, que é um belíssimo Douro clássico, cheio de acidez e volume. Voto que façamos todos uma campanha para que tragam o branco.
Hermitage x Crozes Hermitage
Nesta semana, recebi uma newsletter da Enocultura que mastiga as diferenças dessas duas regiões do norte do Rhône em rápidos tópicos. Além de ter esclarecido dúvidas, me fez pensar em como é uma delícia receber informações assim do nada. Vale assinar.
Fogão a gás x fogão de indução
Ouvi o podcast do Washington Post sobre as pesquisas que dizem que substâncias liberadas por fogões a gás são maléficas para a saúde. Mas sem pânico: se você não tem doenças respiratórias (eu tenho) e/ou tem a cozinha arejada, não há de ser um problema. Mas, se estiver em dúvida entre indução e gás, eles sugerem refletir um pouco mais. Mas parece que a coisa é um rolo: virou briga entre democratas e repúblicanos e pode ter um lobby da indústria de linha branca. É uma daquelas polêmicas que estamos vendo nascer agora e não sabemos direito aonde vai dar.
O homem do peixe
Se você mora em São Paulo e já foi em um bom restaurante de peixe por aqui é provavel que tenha sido afetado pelo trabalho de Cauê Tessuto, que está se tornando um dos grandes fornecedores de pescados e frutos do mar de quase toda a costa brasileira para restaurante de alta gastronomia com a sua Mar Direto. A história do cara é muito boa e eu contei na Gama. Ele fala coisas como: “Queria que as pessoas parassem de comer salmão”; e tenta popularizar espécies brasileiras pouco festejadas. É por causa dele que você chega em um restaurante e encontra prejereba ou sororoca como peixe do dia.
Farofa é um ato político
Também na Gama, a colunista Fabiana Moraes escreve sobre como o farofeiro é visto como brega, cafona, pobre pela elite brasileira mais preconceituosa. A jornalista, farofeira de carteirinha e berço e com muito orgulho, conta suas memórias na praia de Boa Viagem, no Recife, nos anos 1980 e advoga por esse hábito, que é encontrado em toda a costa do país. De minha parte, posso dizer que frango assado com farofa é uma combinação sublime e que pede uma cervejinha pilsen bem gelada. Aos preconceituosos, um questionamento: um piquenique na Provence vocês tão topando, néam?
O que dizem os cardápios
O New York Times publicou uma reportagem de tendências em que analisa 121 cardápios de restaurantes de todos os Estados Unidos. Entre as conclusões estão que limão yuzu e caviar são dois ingredientes sob os holofotes; a salada caesar e o frango frito vivem um renascimento; sobremesas nostálgicas (sundae, arroz doce, tiramisù, etc.) estão em todo lugar, assim como a (minha favorita) panna cotta. Os cardápios em si estão mais despojados, usam mascotes, fontes minúsculas, piadinhas, tentam inovar de todo jeito.
Por aqui, lobster roll

Fui ao novo Caracol, que abriu as portas na Barra Funda, em São Paulo, no fim do ano passado. Está um pouco diferente, menos áudio bar e mais balada com restaurante, que fica no andar inferior. A cozinha, sempre boa, traz agora dois sanduíches deliciosos: o lobster roll de cavaquinha, que tá bem com cara de tendencinha, e o já conhecido sanduíche de porco, no pão de brioche com picles de cebola, ai meus sais, que delicinha. O problema é que, levinhos, dá vontade de comer muitos. Harmonizei com um Dirty Martini bem dirty, na onda do salgadinho.
Já foi na By Kim?
Nos anos 1980, o consultório do meu pai ficava a menos de uma quadra de uma padaria em Fortaleza chamada Pão&Pães. Duas irmãs descendentes de libaneses faziam o palmier mais maravilhoso que comi na vida. Talvez o fato de meu pai chegar lá logo que saía a fornada fosse o que garantia essa perfeição. Talvez nem fosse tão bom assim, e a nostalgia dos meus 8 anos é que edulcorou essa memória. O que importa é que sempre carreguei comigo a ideia de um palmier fascinante, que jamais foi alcançado novamente.



Eis que eu conheci a By Kim, uma confeitaria que é tocada por uma equipe de “nerds do processo” e que tem o palmier como um de seus carros-chefes, contando inclusive com um louquíssimo mil folhas de palmier. Com uma quantidade indecente de crème patissière, é tão rico que não dá pra comer sozinho, tem que dividir com alguém (que obviamente não vai reclamar). E, falando em nostalgia, o tiramisù é outro ponto alto, assim como os biscoitinhos amanteigados cobertos por chocolate e o cheesecake com cookies and cream. Não é barato, mas é de chorar.
Só mais um golinho
Quem sou eu pra discordar do Papa Francesco?
maninha, sempre tão sagaz. Estava com saudades de suas newsletters <3
Tava com saudades de suas dicas! Obrigado❤️