Escolher errado dói
Dicas de como pedir vinho no restaurante de forma certeira, um espumante brasileiro lindo, uma receita mara e um pão francês verdadeiramente diferente
Carnaval passou e, de volta à normalidade das cidades, quem vai a bares e restaurantes pode retomar àquela lista de lugares a visitar, sejam novos ou velhos conhecidos. Eu estou animada para circular, mas sempre assustada quando pego a carta de vinhos porque escolher errado significa um golpe nas papilas e no bolso.
Talvez porque tenha na cabeça os preços cobrados nas importadoras e no supermercado. No restaurante, claro, há uma margem em cima, o que é justificado para cobrir os custos. Mas imagina pedir, pagar por isso tudo, e detestar o que vocês mesmo escolheu? Não sei o que é pior, se é não ter quem culpar ou depois arcar com as consequências financeiras dessa escolha triste.

Nesta coluna da Gama, eu dou dicas de como escolher melhor um vinho no restaurante. Não sai tudo da minha cabeça, mas de mil fontes desses anos em que cubro o mercado de vinho e provo sempre que dá, às vezes como se não houvesse amanhã, às vezes com mais sede do que oportunidade. Vou resumir aqui um pouco, mas vale ir lá no texto original e pegar todas elas. Tem algumas sugestões de autores maravilhosos, como Jon Bonné, um expoente atual do texto de vinho, além da minha musa Jancis Robinson:
Quem se planeja come e bebe melhor e, quase sempre, consegue pagar menos. Se a ida ao restaurante é um plano feito com antecedência, vale dar uma checadinha na carta antes;
Se algo te chamou a atenção, procure a ficha técnica para saber o que essa bebida pode apresentar na taça;
Vivino não é fonte;
Essa é da Jancis: se você vai comer algo delicado escolha um vinho leve. Se for comer algo mais gordo, melhor escolher um vinho mais parrudo;
Se há muita oferta em taça no menu, vá nessa. Você vai provar mais e aumentar seu conhecimento;
E agora o Jon Boné vai esmerilhar:“Se uma taça custa mais que um quarto da garrafa, não peça”;
“Vinhos mais óbvios costumam ser os piores negócios.”
“Quase toda carta tem vinhos menos conhecidos que são os queridinhos de alguém.”

Garrafa da Semana
Tenho bebido muito espumante, me perdoem se pareço redundante indicando sempre umas borbulhas por aqui, mas o Luiz Porto Nature está mais que digno de nota. Abri uma garrafa que voou facinho há uma semana, superchic, seca, pérlage bem fina, versátil demais. Acompanha uma refeição inteira e você ainda vai querer continuar. Não tem erro, impressiona, e é um excelente custo-benefício, na faixa dos R$ 100. Para beber prestando atenção e sentindo tudo o que ele tem pra mostrar na taça.
Vinho hardnews
Dois assuntos pipocaram esta semana na minha timeline e eu fiquei aqui pensando em como dar a minha contribuição. A do vândalo que desperdiçou quase 60 mil litros em Ribera del Duero, na Espanha, me fez querer chorar porque, provavelmente, o vinho era bom. A quem não conhece a região, eu digo apenas que é de lá que vem o famoso Vega Sicília, um dos vinhos mais caros e festejados do mundo. Vou colar aqui um post de quando provei no ano passado pela terceira vez esses bebezões.
A segunda história é a do vinho mais caro do mundo, que está num documentário que eu ainda não vi, “The Most Expensive Wine in the World”, disponível no iTunes e que fala sobre a saga do produtor francês Loïc Pasquet para reconstruir um vinho de Bordeaux de 1855, antes dos vinhedos europeus terem sido dizimados pela filoxera. Este vinho é vendido a preços que vão de 4 mil euros até 30 mil euros. Pra mim sempre foi difícil entender por que um vinho custa um valor desses. Se pra você também, recomendo a leitura de “Vinho e desigualdade: como lidar?". Abaixo, a minha caixa de comentários sempre aberta.
Na cozinha, de hoje a cem anos
Gente, como a gente vai continuar cozinhando em 10, 15, 50, 100 anos, eu achei essa receita aqui de udon com tahini, porco e amendoin maravilhosa, estou babando. Lista meio longa de ingredientes, mas algo me diz que vale a pena. E, como dizem as pesquisas, massa faz com que a gente fique mais feliz.
Já foi Na Janela?
Quando integrava a equipe do Paladar, no Estadão, fizemos uma capa (com texto final do José Orenstein) em que perguntávamos por que o pão francês estava ficando tão ruim em todo lugar: inchado, cheio de bromato, leve como o ar e quase oco. Foi uma matéria meio polêmica, é óbvio que as padarias não curtiram e muitos de seus seguidores nos xingaram, mas nos dedicamos a valer, era quase jornalismo denúncia. Nosso objetivo não era zoar ninguém, mas fazer com que as padarias entendessem que tava na hora de melhorar, deixar de lado misturas prontas. Enquanto o movimento das padarias artesanais só cresce, o pobre pão francês continua ali meio escanteado, inflado e triste. Mas aí, semana passada, eu fui buscar as crianças na escola e na saída, umas 18h, passei Na Janela, a padaria que tem o Luiz Américo Camargo como sócio, em busca de uns croissants. Eles já tinham acabado, mas não o le fou, o pãozinho francês que eles fazem ali com fermento natural.



De tamanho, tem a metade que um pão francês da padaria da sua esquina. De peso, tem o dobro. Como eu só comeria no dia seguinte, recebi a recomendação de envolvê-lo em um paninho e, pela manhã, enfiar debaixo da torneira e meter no forno. Segui o conselho com certo espanto e animação. Adorei o que provei, um pãozinho saboroso e muito denso. Lembrei da capa do paladar, pensei que era a antítese da nossa denúncia. Fica aqui a dica pra quem anda triste com o pão francês que encontra por aí. Ah, a focaccia Da Janela é absurdamente boa, os beigales (uns bagels mais magros) são um sucesso com as crianças e o pão da capa quebra um galho se você vai receber amigos e quer ter algo pra beliscar.
Só mais um golinho
Olha nos meus olhos e diz que me ama, como se eu fosse um bom Gut Oggau.
o pdq do Na Janela também é bem bom!
Ótimo texto. Quando me pedem uma dica eu sempre tento entender o que a pessoa escolherá para comer, para então apresentar as alternativas. Essa dica sempre funciona: escolher o prato primeiro. 😉🥂🍾