Dump de feriadão
Um Rioja, clubes de assinatura um restaurante taiwanês, textos, um podcast e umas piadinhas para alegrar esses dias — finalmente — frios
Começo a escrever essa newsletter numa noite fria, véspera de feriado, com uma taça de tinto ao lado, querendo contar um monte de coisa interessante que provei, li e ouvi esses dias. Preparei então um listão para rechear seu Corpus Christi. E pensando aqui que não há nada melhor que um feriado cristão para transformar nosso corpo em uma igreja, como diz o meme, cheia de pão e vinho. Divirta-se!
Garrafa da semana
É justamente o que está aqui ao meu lado, o Viña Real Crianza. Ele integrava uma caixa com outros três que formaram uma degustação espanhola da Grand Cru, com a ideia de mostrar a diversidade do país e portfólio da importadora. Este tinto era o representante de Rioja, de uma subregião chamada Rioja Alavesa, que calhou de ser justamente a parte que conheci no ano passado, ao norte do país, pertinho do País Basco e coladinha à Serra da Cantábria. O vinho é feito com Tempranillo, Garnacha, Mazuelo e Graciano por um dos nomes mais emblemáticos da região, e foi a primeira vinícola de Rioja a maturar seus vinhos em barricas de carvalho. É uma delícia pura, com notas de frutas vermelhas, especiarias e baunilha, segundo a ficha técnica. As frutas estavam fáceis de serem detectadas, mas para a baunilha rolou um teste: calhei de ter à mão um extrato de verdade da Bombay (recomendo fortemente!) e não a essência artificial. Senti o aroma do vidrinho, depois voltei à taça. As intensidades eram bastante diferentes, mas era a mesma raiz. No mais, os taninos são polidos e quase imperceptíveis, mas a boca fica sequinha, pronta para mais um gole, logo, existem. Tem acidez, tem gostosura, é a cara de um inverno ameno. Acompanhou um guisado de frango com couscous, couve e abóbora assada, mas podia ter acompanhado tanta coisa! Qualquer carne vermelha ou de caça não tão gorda teria arrasado aqui.
Temporada de compras
Estamos nos aproximando da época do ano em que mais abrimos garrafas. Se é uma fase de angústia pra você, se escolher e comprar dói, sugiro a leitura da coluna da Folha desta semana em que me pergunto: fazer ou não fazer uma assinatura de clube de vinho? Colo aqui um trecho.
Como escolher um vinho é, talvez, a questão mais fundamental de quem quer beber bem. Porque não se trata apenas de achar um vinho que agrada, mas de continuar encontrando novidades uma após a outra.
Difícil pra chuchu, mas há um atalho legítimo, que é deixar que um especialista te apresente novos rótulos. E já pensou ter alguém que faça isso todos os meses? É assim que funcionam os clubes de vinho.
Muitos amigos já me perguntaram se vale a pena fazer uma assinatura. A minha resposta é: vale, mas tem que achar o clube que mais tem a ver com você.
Guiar-se apenas pelo preço pode levar à frustração. Mais importante, na faixa de preço que cabe no seu bolso, claro, é encontrar a curadoria certa. Fica mais fácil saber o que vai chegar na sua casa e ter confiança de que vai ser legal quando você conhece o perfil de quem está vendendo, seu gosto, seus valores.
Para facilitar, algumas ideias de clubes: Chez France, De la Croix, Edega, Evino, Grand Cru, Weinkeller, Wine.com.br. Os menores e só para São Paulo: Beba bem em Casa, Sede 261, Toque de Vinho e Vinhos Bons.
Para ouvir
Este episódio do I’ll Drink to That, melhor podcast sobre vinho que já ouvi, é uma longa conversa sobre a vida com um dos fundadores dos restaurantes Noble Rot, que é também revista, livro, clube de vinho (já que tocamos neste assunto) e tantas outras coisas. Mas o Dan Keeling foi também empresário do Coldplay (oi?) e passou da música para o vinho como… jornalista (oi??), fundando primeiro um fanzine (oi???). É um cara com opiniões interessantes sobre o que vai acontecer aos preços da Borgonha e com uma visão inteligente sobre vinho natural e seu poder espalhador da enopalavra.
Língua e linguagem
Minha colega Luiza Fecarotta começa nova turma para discutir um dos meus assuntos favoritos: o vocabulário da degustação. Seu curso Língua & Linguagem - A comida e a escrita criativa com exercícios de degustação começa em 13/6 na Escola Wilma Kövesi. O formato combina teoria, experiência sensorial e oficina de texto e no programa estão nomes de fora da comida como Rubem Braga, Rachel de Queiroz e Wislawa Szymborska.
Padarias tradicionais
Não acho que as artesanais chegaram para que esquecêssemos das tradicionais, o problema é que elas andavam (e andam) com o pão muito ruim e o café queimado. Mas, claro, há jóias em diferentes partes da cidade, como é o caso da Aracaju, que serve muitas delícias e faz um dos meus pães favoritos, a broa portuguesa, tradição de Natal na minha casa. Esta matéria da Folha faz uma homenagem bonita.
Já foi no Aiô?
Faz dias, semanas, talvez meses que estou para escrever sobre o Aiô, um restaurante notável na Vila Mariana. Especializado em comida taiwanesa, ele despertou partes da língua que não lembro de terem sido estimuladas antes. Comecei pela salada de tomates, que é doce, picante e muito umami. (Aliás, não sabe o que é umami? Lá no Aiô você aprende um pouco mais a cada prato.) Outro imperdível é you fan, um arroz glutinoso com porco, frutos do mar e cebola frita. Apenas um sonho, comeria dois agora. O peixe do dia no vapor com batata doce, cogumelo e vegetais é delicado e deve ser pedido no começo (meu erro é que foi depois). Comi ainda um bao e deliciosos dumplings. As sobremesas merecem atenção: a torta de queijo com texturas de goiaba, pobá (uma bolota de goma de tapioca) e anis é de brigar pra ver quem come mais; e a texturas de Taiwan, que leva cupuaçu para meu choque, além de flor de sabugueiro, pobá e avelã, é superrefrescante. Aviso importante: vá de táxi ou Uber para experimentar a coquetelaria da casa, que inclui destilados taiwaneses que, algo me diz, só se você for a Taiwan.
Só mais um golinho
Oldie (de 2001), but goldie, do bebiodicionario
Excelentes dicas. Posso acrescentar mais uma sugestão na sua lista de clubes de vinhos? Não é exatamente um clube, mas tem a mesma ideia. Já ouviu falar na Shopper? É um supermercado virtual, para o qual faço a curadoria dos vinhos. Eles têm um produto chamado Caixa-Surpresa. Todo mês escolho 6 vinhos do portfólio para três caixas: refrescantes, tintos e tintos premium. Você compra individualmente, sem saber o que está na caixa - eu faço a escolha. Os vinhos estarão com um substancial desconto sobre o preço normal. Depois estarão disponíveis para a compra pelo preço normal. Sem falsa modéstia, é um sucesso. E dentro de cada caixa ainda vai um texto explicando os detalhes de cada vinho. Todo mês tem ótimas sugestões. Experimente. Abraços, , Arthur Azevedo, vice-presidente da ABS-SP e curador de vinhos da Shopper (www.shopper.com.br)