DJ, toca um mambo, mas me dá um Fitz que preste
Como diria a minha mãe, beleza não põe mesa e as grandes marcas de destilado precisam reconhecer a importância de um drink bem feito
A crítica gastronômica, autora e substacker Ruth Reichl escreve sobre os restaurantes sempre com um jovem casal hipotético em mente. Na cabeça de Reichl, esses dois amantes levam uma vida apertada, mas juntaram economias para gastar em uma comemoração a dois. Portanto, para fazer justiça ao dinheiro deles, ela sente a obrigação de ser o mais honesta possível em suas avaliações, tentando ignorar as bajulações que recebe e focando no que interessa para o comensal comum.
Nesta temporada de Carnaval, a comensal comum era eu e o jantar de celebração era apenas um drinque. Cansada de tomar cerveja em bloquinho, e já que estava em uma festa, apostei em um coquetel para abrir os trabalhos. Aliás, repeti a fórmula em duas ocasiões, duas festas distintas, com o mesmo resultado. Fui vítima de dois trágicos Fitzgeralds.
Na primeira festa, patrocinada pela Tanqueray, o drink claramente era uma versão autoral do clássico, mas absurdamente sem acidez, meio rosa, sei lá eu o que enfiaram ali. Na segunda, uma festa da Beefeater, o bartender (que claramente não era bartender de fato) ficava olhando a lista de ingredientes no cardápio (o mesmo em que eu fiz a minha escolha) e ia jogando o que encontrava à sua frente num copo de papel. Mexeu por dois segundos sem convicção e me entregou. Faltava açúcar e angostura, que ele provavelmente não encontrou, e talvez não soubesse o que era, pois aposto que era sua primeira experiência na mixologia. E tudo isso a R$ 40. Eu poderia ter tomado quatro Coronas geladas no bloco. Esse era o tamanho da minha revolta.
Que fique claro: eram festas com estrutura, num lugar grande, com ingressos caros. No bar, só havia as marcas patrocinadoras, coqueteis feito com esses destilados ou as cervejas parceiras, cujas marcas brilhavam em neon por todo lado. Eu esperava que, com tanta produção, a bebida servida fosse interessante. Mas, pelo contrário, com esse nível de qualidade, não me espanto que os jovens estejam deixando de beber.
No Carnaval, alguns podem argumentar, bebe-se como combustível, para se animar, encontrar energia para que os pés continuem a se mover por horas, para a cabeça ficar leve e a gente seguir com o ritual de inversão e fantasia. Ainda assim, ninguém quer fazer isso tomando purgante.
No caso dos tristes Fitzgeralds, eu queria me entorpecer um pouco, mas não queria abrir mão do sabor de um drinque que eu adoro. No caso dos vinhos, quando provo a trabalho, é preciso estar atenta, focar nas notas olfativas e no paladar, mas se há algum nível de envolvimento maior com a bebida, é claro, o texto vai sair melhor e eu vou me divertir também.
Agora, se a bebida é ruim, não há nível de gradação alcoólica que faça milagre. Até porque meu mantra é beber menos e melhor. Fica o recado para as gigantes de alcoólicos que veem os jovens (e outros nem tanto) correrem em direção oposta à sua: beleza não põe mesa. Não adianta nada fazer um investimento imenso na divulgação e não entregar produto. Tava tudo lindo, mas parece que esqueceram que alguém ia beber aquela gororoba lá.
(Ah, e se você quiser fazer um Fitzgerald que preste, o Sergio Crusco te ensina.)
Garrafa da semana
Se você ainda estiver no clima de folia ou for pegar uma piscininha no calor, minha dica é uma borbulha rosé bem leve, o espumante Maraví Brut Rosé, que custa pouco mais de R$ 50 e entrega uma nota de danoninho bem gostosa, leveza e acidez. Tomei com quatro amigos tão rapidamente que investigamos se a garrafa estava furada. É um corte de Garnacha (75%) e Chenin Blanc (25%) feito pelo método Charmat (tanque) com 12% de álcool. Uma delicinha.
É preciso ficar altinho para curtir um vinho?
Adorei esse texto do jornalista inglês Henry Jeffreys, em que ele discute o hábito de degustadores profissionais cuspirem o vinho. Na cerveja e no uísque, por exemplo, isso não acontece. Ele defende que talvez por isso mesmo sejam bebidas consideradas, por muitos, mais divertidas que o vinho. Jeffreys conta sobre quando teve uma oportunidade única de provar oito diferentes Domaine de la Romanée Conti e resolveu alterar cuspidas e goles. Fica aqui a dica de leitura:
Atire a primeira pedra (de gelo)
Voltando ao tema da temperatura do vinho, escrevi sobre usar gelo na taça na última coluna da Folha. Deixo aqui a dica de leitura e um parágrafo:
Vamos logo chocar os preciosistas: é melhor uma pedrinha de gelo do que aturar um vinho à temperatura ambiente quando os termômetros lá fora marcam máximas de 34°C. Afinal, como me ensinou o premiado enólogo italiano Alberto Antonini, responsável por grandes vinhos na Toscana e nos quatro cantos do mundo, a temperatura não é um lugar, mas um número. Dizer que um vinho deve ser servido à temperatura ambiente é o primeiro grande erro em que todos caem.
Mulheres no Metzi
O restaurante mexicano de Pinheiros, em São Paulo, celebra o Dia da Mulher em um jantar especial preparado por um time de mulheres que inclui Cafira, Mara Salles, Manuelle Ferraz, entre outras. Os pratos serão harmonizados com vinhos e coqueteis. No dia 10, às 20h. Reservas pelo WhatsApp: (11)97604-4920.
Aiô + Sede 261
Para quem está em São Paulo, fica a dica do jantar feito no restaurante de raízes taiwanesas da Vila Mariana e harmonizados pela dupla de sommelières Daniela Bravin e Cássia Campos. Serão sete etapas com pratos fixos no menu da casa e outros criados para o evento.
McCesar
E essa história do fast-food romano? Fiquei me imaginando curtindo uma dieta mediterrânea com um vinho bem naturalzão.
Só mais um golinho
Outro dia, falando com uma amiga, entendemos que, às vezes, tudo o que se quer é um vinho bem tradicional.
adorei e te entendo perfeitamenteeee
Melhores dicas ♥️ quero essa piscina com essa espumante 😎