5 vinhos para beber o Brasil
Para um país diverso e para celebrar um tão sonhado marasmo no Dia da Independência, uma variedade de estilos e terroirs, do Nordeste ao Sul, até R$ 150
Que alegria a expectativa de um 7 de Setembro sem muita notícia. Para celebrar este tão esperado marasmo e o aniversário da Independência do Brasil, que tal mergulhar em bons rótulos brasileiros? Na última década, vimos o mapa de produção vitivinícola brasileiro se expandir para regiões antes inimagináveis e o número de vinícolas crescer de maneira surpreendente. Vimos nascer também projetos menores e independentes e os perfis se diversificarem. Apesar da horrorosa descoberta de trabalho escravo em plantações de uva no Sul do país neste ano (e isso não podemos esquecer para sempre combater), temos muito o que provar. Deixo aqui então um belo top 5 até R$ 150 para este feriadão:
1. Luiz Porto Nature, Mantiqueira, MG
Este espumante é fino, finíssimo, e seco, sequíssimo. Tem borbulha bem pequena que faz bom mousse na boca e limpa tudo, tem acidez interessante e deliciosa, e é um coringa que vai do brinde a uma refeição mais leve, mas brilha mesmo é com uma mesa diversa de belisquetes. Vem de Cordislândia, terra do café, num projeto que começou em 2004, com a primeira safra em 2012. Sugiro que sirva às cegas pra aquele seu amigo metido, pra ver se ele adivinha de onde vem essa belezinha.
2. Arte da Vinha 4 Elements Fire, Serra Gaúcha, RS
Esse aqui é pra quem quer uma coisa mais lokona, um espumante de método ancestral (e natural) com Gamay e Sauvignon Blanc, que é um pouco funky, tem borbulhas menores mas bem insistentes, e aquele indefectível aroma de levedura. É um vinho pra (quase) toda ocasião se você não tiver de camisa social e sapato apertado. Tem hora que lembra bala, tem hora que é salgado. Note a evolução a cada gole e os aromas na taça, uma delícia e também uma brincadeira.
3. Uvva Sauvignon Blanc, Chapada Diamantina, BA
Um branco fresco e leve supertropical, o puro suco do maracujá, que tem como principal atributo o exotismo e o ineditismo de sua origem: a Chapada Diamantina. Em breve conto mais sobre minha visita ao lugar, mas imagine o que o casamento de altitude com amplitude térmica fez pela acidez desse branco, que é bom pra abrir uma noite e acompanha queijo de cabra ou friturinhas do mar.
4. Baccio Gewürztraminer Grechetto, São Joaquim, SC
Aqui a acidez vai às alturas e há complexidade pra segurar a onda de pratos mais intensos, picantes e doces, de acento asiático mais exótico. Mas com comida baiana, já que é 7 de Setembro, vai bem demais também. Recomendaria com um xinxim de galinha ou um bobó de camarão. Fica tanto tempo com as cascas (mais de 90 dias) que tem uma cor âmbar linda e notas de damasco e camomila. No boca, corpo médio e sensação de limpeza pra deixar o dentista feliz. Na Toque de Vinho.
5. Garbo Cherry Bomb Clarete, Serra Gaúcha, RS
Esse vinho é um sucesso, um tinto leve e clarinho pra ser tomado mais fresco e dar uma animada na vida. É bem festivo: como diz o nome, um grande baile da cereja, que explode no nariz e fica na boca depois que ele já se foi. Vai bem sozinho, mas é bom também pra não pesar no churrasco, pra acompanhar um frango de padaria, uma massinha, tábuas de frios, são tantas as opções! Dá pra passar um dia com ele.
Escrever sobre comida e falar sobre tudo
Muitas coisas podem explicar o mundo em que vivemos de maneira mais direta e clara do que as palavras óbvias. Mary Frances Kennedy Fisher (1908-1992), uma das maiores autoras sobre comida que já pisou sobre a Terra, aparentemente tinha como tema primordial a comida, mas o que ela fazia mesmo era escrever sobre a vida. Para a sorte de todos nós, enfim, a Companhia de Mesa resolveu retomar sua obra e acaba de relançar um de seus grandes clássicos, “Como Cozinhar um Lobo”, publicado pela primeira vez em 1942 nos EUA. Neste livro, Fisher usa o pretexto da comida para escrever sobre o lobo que batia à porta, ou a fome que rondava tanta gente nos anos de maior escassez durante a Segunda Guerra Mundial. Falo aqui nesta coluna da Gama como a leitura me ligou às memórias do meu pai sobre a seca do sertão nordestino.
Encontro de divas
Se você quer saber mais sobre a Fisher, por favor leia este texto lindo escrito pela musa Ruth Reichl, que entrevistou a autora diversas vezes na vida e sempre combinando os encontros por cartões postais. Achei a amizade romântica e as duas estão no meu top 10 textos sobre comida da história.
Um novo Tuju
O chef Ivan Ralston e a pesquisadora Katerina Cordás passaram dois anos viajando por diferentes biomas brasileiros. Depois de acompanhar essa jornada pelo Instagram, dá, no mínimo, curiosidade de conhecer o novo Tuju, que abre na próxima terça-feira (12). O que dá para adiantar:
1. os menus serão sazonais, têm dez tempos e foram batizados Umidade (primavera), Chuva (verão), Ventania (outono) e Seca (inverno), refletindo as inúmeras influências do clima sobre os ingredientes ao longo do ano;
2. a adega de dois andares tem mais de 5 mil garrafas, divididas em mais de mil rótulos. E dá-lhe consagração: de Bordeaux, Château Margaux, Latour, Haut-Brion, La Mission Haut-Brion e Palmer; e de Champagne, Krug, Dom Perignon e Cédric Bouchard;
3. o serviço desse acervo fica a cargo de Juliana Carani e Tiago Menezes;
4. a comida do Ralston é bem cabeça, mais intelectual que hedonista, mas lembro que ela cruzava a fronteira com a harmonização, que no passado era louquíssima. Torcendo pra que com tantos rótulos chiques e caros isso não se perca.
Para dar um up na adega
Vi que a De La Croix trouxe de volta vários rótulos queridos como o branco leve e lindo do Loire Corbeau blanc, do Vincent Caillé; o X Bulles, um espumante delicioso; e o #semdefeitos Alsace Métiss, que é redondo e pesadinho como esse fim de inverno pede dos brancos. Temo pela minha conta bancária, regozijo pelas minhas taças que serão bastante festejadas.
Só mais um golinho
- Te deixo com um meme, afinal, sextou na quarta, amém.
eu vi a chamada mas deixei passar esse texto dele. vacilo, né? poderia ter linkado a essa obra de arte gloriosa com golfinhos kkk
Amo esse texto da Ruth Reichl sobre a MFK! E ri demais com esse meme. Cê leu aquele texto do Eric Asimov "Is Albariño the Next Great White Wine?" ?